Uma Revisão sobre Baterias: Parte II

Seguindo com a série sobre baterias, neste artigo vamos entrar mais a fundo em cada uma das principais tecnologias utilizadas atualmente (chumbo-ácido, Ni-Cd, NiMH e íon-lítio), abordando as suas características construtivas e as peculiaridades dos respectivos métodos de carregamento. 

Para melhor entendimento, recomendo aos que ainda não leram, que leiam o primeiro artigo dessa série clicando neste link

Baterias de Chumbo-Ácido

As baterias de chumbo-ácido foram criadas por Planté em 1859, sendo as primeiras baterias recarregáveis comercializadas na história. Apesar de terem sido inventadas há muito tempo, ainda hoje são bastante utilizadas por serem a tecnologia de armazenamento de energia de menor custo por Wh [1].

Atualmente, as baterias de chumbo-ácido são feitas utilizando dióxido de chumbo (PbO2) como material ativo nas placas positivas e chumbo metálico (Pb) como material ativo nas placas negativas. Estas placas são submersas num eletrólito formado por uma solução diluída de ácido sulfúrico (H2SO4). Com o intuito de aumentar a resistência mecânica do chumbo e melhorar suas propriedades elétricas, diversos estudos têm investigado a sua dopagem com elementos como antimônio (Sb), cálcio (Ca), estanho (Sn) e o selênio (Se). Nesse sentido, as ligas das placas positivas e negativas passam a ser denominadas de Chumbo-Antimônio (Pb-Sb), Chumbo-Cálcio (Pb-Ca), Chumbo-Cálcio-Estanho (Pb-Ca-Sn), entre outras combinações [2].

Ao longo dos anos, diferentes tecnologias de baterias de chumbo-ácido foram desenvolvidas. Dentre estas, destacam-se as baterias abertas, denominadas FVLA (Free Vented Lead Acid), e as baterias seladas, conhecidas como VRLA (Valve Regulated Lead Acid). Estas últimas podem ser do tipo AGM (Absorbed Glass Matt), quando o eletrólito é absorvido numa manta de vidro porosa que serve de separador, ou do tipo OPzV quando o eletrólito é mobilizado em um gel. Ademais, as baterias de chumbo-ácido podem ser utilizadas em diferentes aplicações, diferenciando-se em automotivas, de tração, estacionárias e fotovoltaicas. Algumas características típicas de baterias de chumbo-ácido de 12 V estão presentes na Tabela 1.

Tabela 1. Algumas características típicas de células de chumbo-ácido.

Fonte: Adaptado de [3]

Método de Carregamento das Baterias de Chumbo-Ácido

O processo de carregamento de uma bateria de chumbo-ácido é feito, normalmente, respeitando os três estágios explicados no post passado. Durante o estágio de corrente constante, a bateria é carregada em cerca de 80% de sua capacidade. Os outros 20% é obtido durante o estágio de tensão constante. Por fim, o estágio de flutuação é usado para manter a bateria carregada. Este processo pode ser visto na Figura 1.

Figura 1. Processo de carga de uma célula de chumbo-ácido em três estágios.

A mudança da primeira etapa para a segunda ocorre quando a tensão atinge um limite pré-estabelecido, que varia em torno de 2,30 V a 2,45 V por célula. Na segunda etapa, a tensão é mantida constante nesse mesmo valor e a corrente começa a diminuir até atingir um valor de 3% a 5% da capacidade nominal da bateria, concluindo assim o seu carregamento. Dependendo das perdas internas da bateria, este valor nunca é atingido e um temporizador determina o final do carregamento [3].

A escolha da tensão de fim de carga é um ponto muito crítico no projeto de um carregador. Por um lado, a bateria deve ser totalmente carregada para evitar sulfatação e, por outro, se ela sofrer uma sobrecarga por não comutar para o estágio de flutuação no momento certo, problemas como corrosão e gaseificação podem ocorrer. Além disso, a temperatura muda o valor da tensão o que torna o monitoramento do processo ainda mais difícil. Em [5] recomenda-se um limite de tensão menor para locais mais quentes e maior para locais mais frios. Ou ainda, utilizar um sensor de temperatura para ajustar a tensão de carga, aumentando assim a eficiência do processo. A Tabela 2 compara as vantagens e desvantagens para diferentes tensões de fim de carga.

Tabela 2. Efeitos da tensão de fim de carga em baterias de chumbo-ácido.

Fonte: Adaptado de [3].

Assim que a bateria atinge a tensão de final de carga, ela não pode permanecer no estágio de tensão constante por mais de 48 horas. Isso é mais crítico em baterias seladas, pois não suportam sobrecarga como as baterias inundadas. Se o carregador não possuir o estágio de flutuação ou não desconectar a bateria no final do processo, o usuário deve desconectá-la após este tempo. Outro cuidado a se tomar é guardar a bateria carregada, caso ela não seja usada por um longo período. Além disso, recomenda-se um carregamento a cada 6 meses. No caso das baterias AGM, este intervalo pode ser estendido de 6 a 12 meses.

Em suma, o processo de carga para baterias de chumbo-ácido é o mesmo para todos os tipos, obedecendo os três estágios de carregamento. No entanto, deve-se atentar para os níveis de tensão no estágio de tensão constante e de flutuação. As baterias seladas, de gel e AGM são sensíveis a sobrecarga e, por isso, a tensão de flutuação deve ser reduzida para um valor entre 2,25 e 2,30 V/célula (este valor pode ser ainda menor para locais quentes). Já as baterias inundas suportam uma tensão de flutuação de 2,40 V/célula. Para uma melhor escolha dos níveis de tensão, deve-se consultar os parâmetros disponibilizados pelos fabricantes.

Baterias à Base de Níquel

As baterias de Níquel-Cádmio (Ni-Cd) foram inventadas por Waldemar Jungner em 1899, sendo o segundo tipo de baterias recarregáveis a ser desenvolvido [6]. Estas possuem uma estrutura similar às de chumbo-ácido, mas o material utilizado nas placas positivas é o hidróxido (óxido) de Níquel III, NiO(OH), e nas placas negativas o Cádmio (Cd) ou ligas de Cádmio e Ferro. Já o eletrólito é uma solução diluída de hidróxido de potássio (KOH), o que as classificam como baterias alcalinas [1].

Por muitos anos, as baterias de Ni-Cd foram utilizadas em equipamentos portáteis devido às vantagens que possuem sobre as baterias de chumbo-ácido, além do fato de serem vendidas em diferentes capacidades e tamanhos. Algumas dessas vantagens incluem [1]:

  • Podem ser submetidas a sobrecarga;
  • Podem ser totalmente descarregadas;
  • São mais robustas;
  • Apresentam bom desempenho em baixas temperaturas e podem ser congeladas;
  • Não estão sujeitas a sulfatação e seu carregamento não sofre influência da temperatura;
  • Podem ser carregadas a taxas mais elevadas.

Em compensação, essa tecnologia possui um custo inicial muito mais alto do que as baterias de chumbo-ácido, apresenta efeito memória, tem uma tensão nominal por célula baixa (o que requer mais células para se obter uma tensão maior) e ainda possui materiais tóxicos em sua composição, além de uma autodescarga elevada. A Tabela 3 mostra algumas características típicas de células de Ni-Cd.

Tabela 3. Algumas características típicas de células de NiCd.

¹Para evitar polaridade reversa na primeira célula da bateria que se encontra completamente descarregada. Fonte: Adaptado de [1].

Atualmente, as baterias de Níquel-Cádmio perderam espaço para as baterias de Níquel-Hidreto metálico (NiMH). Uma bateria de NiMH pode ter de duas a três vezes a capacidade de uma bateria de NiCd de tamanho equivalente, o que resulta em uma alta densidade energética, podendo ser comparada às de ion-lítio. Também, possuem uma maior eficiência energética e não contém materiais tóxicos em sua composição.

A reação química nos eletrodos positivos é a mesma das baterias de NiCd (ambas usam óxido de Níquel III), no entanto, os eletrodos negativos são constituídos por uma liga metálica que tem a capacidade de formar hidretos. As ligas desse tipo podem ser de Níquel com Terras-Raras ou de Titânio e Zircônio. O eletrólito também é uma solução aquosa de KOH [1]. A Tabela 4 apresenta as principais vantagens e desvantagens das baterias de Níquel-Hidreto metálico.

Tabela 4. Vantagens e desvantagens das baterias de NiMH.

Fonte: Adaptado de [6].

Método de Carregamento das Baterias de NiCd e NiMH

As baterias de Níquel-Cádmio, quando novas, requerem uma carga lenta de 14-24 horas antes de serem usadas. Isso garante que todas as células fiquem com o mesmo nível de carga. No entanto, muitas vezes os fabricantes não as carregam completamente antes de vendê-las. Por esse motivo, vários ciclos de carga/descarga devem ser feitos para que a bateria atinja sua capacidade total. Esse processo pode ser feito por um analisador, ou através do uso normal e, dependendo da bateria, pode levar de 5-7 ciclos ou de 50-100 ciclos [7].

O carregamento das baterias de NiCd é feito pelo método da corrente constante. Porém, diferentemente das baterias de chumbo-ácido, é muito mais difícil detectar o final do processo. Uma das técnicas utilizadas para detecção da carga total é a medição da temperatura. Normalmente os fabricantes utilizam um valor de 50°C como temperatura de final de carga. Entretanto, este método não é preciso, já que a temperatura no interior da célula é maior do que a temperatura externa e, além do mais, quando a temperatura excede 45°C a sua variação a partir de então é muito rápida, podendo danificar a bateria se o carregador não atuar a tempo. Uma alternativa a este método é a identificação através da variação de temperatura ao longo do tempo, conhecida como variação dT/dt. Como pode ser visto na Figura 2, quando a carga está no seu estágio final, a taxa de variação de temperatura aumenta, atingindo um valor de 1°C/minuto. Logo, o carregador deve ser capaz de medir essa taxa e finalizar o carregamento. A técnica dT/dt é mais precisa e segura, no entanto, requer uma taxa de carga de 0,5 C ou maior.

Figura 2. Característica de carga de uma célula de NiCd.

Um grande problema ao definir o fim do processo de carga a partir do valor da temperatura é que se a bateria for retirada antes, resfriar e for conectada novamente, o carregador identificará um estado de carga completamente errado, carregando ainda mais a bateria. Para resolver esse problema, alguns carregadores detectam o final da carga com base no valor da tensão – método conhecido como NDV (Negative Delta V). Essa técnica se baseia na curva apresentada na Figura 2. Nota-se que quando a bateria atinge carga total ocorre uma leve queda na tensão, em torno de 10-20 mV/célula. Uma forma de detectar essa queda consiste em comparar duas leituras de tensão consecutivas, a fim de identificar o momento em que a variação se torna negativa. Esse método também requer uma taxa de carga mais elevada para facilitar a detecção, que pode ser de 0,5 C ou maior (taxas de carga menores produzem uma queda de tensão menos definida).

Após atingir carga completa, a bateria recebe uma carga de 0,05 – 0,1 C por aproximadamente 30 minutos para compensar a autodescarga, técnica conhecida como trickle [7]. Essa taxa deve ser a menor possível para evitar sobrecargas, e a bateria não pode ficar nesta fase por muito tempo. Aconselha-se retirar a bateria do carregador e recarregá-la novamente antes de usar. Alguns carregadores utilizam carga pulsante depois do período de trickle para manter a bateria no estado de carga completa.

O processo de carregamento das baterias de Níquel-Hidreto metálico é similar ao apresentado até aqui para as baterias de Níquel-Cadmio, porém alguns cuidados a mais devem ser tomados. Por exemplo, a queda de tensão no método NDV é de apenas 5 mV/célula, o que requer um sistema de medição muito mais preciso e imune a ruídos. Um bom carregador para baterias NiMH utiliza todos os métodos aqui citados (temperatura de corte, NDV, dT/dt), incluindo um temporizador e, ainda, um outro método que detecta carga total quando a tensão se estabiliza, denominado tensão de plateau em [7], [8]. Esse tipo de carregador emprega uma lógica “OU” entre todos os métodos, identificando o final da carga a partir do primeiro que se manifestar. Isso o torna muito mais preciso e confiável, pois se um dos métodos falhar os outros podem finalizar o procedimento de forma segura.

Adicionalmente, é importante mencionar que as baterias à base de Níquel apresentam uma eficiência maior para taxas de carga maiores. Conforme consta em [7], para uma taxa de 1 C a eficiência do carregamento é de aproximadamente 91%, enquanto que para uma taxa de 0,1 C esse valor é de apenas 71%. Além disso, até 70% de carga a eficiência é próxima de 100%. Por esse motivo, os carregadores mais avançados iniciam o carregamento a uma taxa elevada de 1 C até atingir um certo valor de tensão, momento no qual essa taxa é reduzida para evitar superaquecimento. Segundo [8], esse método é denominado “Step-Differential Charge” e funciona muito bem para todos os tipos de baterias à base de Níquel.

Em geral, as baterias de NiMH são menos tolerantes a sobrecargas do que as baterias de NiCd. Por isso, a taxa de carga na fase trickle é configurada para um valor próximo de 0,05 C, ao passo que nas baterias de NiCd esse valor é normalmente de 0,1 C. Sendo assim, baterias de NiMH não podem ser carregadas com carregadores de baterias de NiCd, mas as baterias de NiCd podem ser carregadas tranquilamente com carregadores de baterias NiMH. Frente a tal condição, os carregadores modernos são projetados para atender ambos os tipos de baterias.

Baterias de Íons de Lítio (Li-Ion)

Os estudos com baterias de lítio começaram em 1912, mas as primeiras baterias só foram comercializadas no começo dos anos 70 e ainda não eram recarregáveis. O desenvolvimento de baterias recarregáveis de lítio teve início na década seguinte, enfrentando diversos problemas devido à instabilidade do lítio metálico utilizado nas placas anódicas (negativas). Esse problema foi sanado quando trocaram o material dessas placas por um material não metálico, surgindo assim as baterias de íons de lítio, popularmente conhecidas como Li-ion (do inglês lithium-ion). É interessante destacar que as baterias de lítio metálico empregam o lítio nas placas negativas, enquanto as baterias Li-ion utilizam carbono. Em 1991, a Sony® comercializou a primeira bateria Li-ion, que hoje se tornou a tecnologia mais promissora e de maior crescimento no mercado [9].

Tecnicamente falando, as baterias de íons de lítio possuem as placas positivas feitas de lítio (Li) da forma LiMO2, onde M representa um metal de transição, sendo níquel (Ni), cobalto (Co) e manganês (Mn) os mais usados, produzindo íons de lítio durante a descarga. As placas negativas são constituídas por carbono com propriedade de receber e acumular íons de lítios. Finalmente, o eletrólito é formado por uma solução de solventes orgânicos e sais de lítio [1].

Esse tipo de bateria é o mais usado atualmente na maioria dos equipamentos eletrônicos, desde pequenos reprodutores de música, passando por smartphones, tablets e notebooks. As baterias Li-íon também têm se tornado populares em aplicações militares, aeroespaciais e em veículos elétricos. Conforme mencionado na primeira parte dessa revisão, a sua popularidade e o seu uso crescente em diversas aplicações se justificam por diversos fatores, com destaques para a sua densidade energética muito superior à das outras baterias e pelo fato de não apresentarem efeito memória. Outro fator muito importante de se considerar é a sua tensão nominal, que pode atingir 3,60 V por célula, o que requer muito menos células para se obter níveis de tensão maiores em comparação com as outras tecnologias. A Tabela 5 apresenta um resumo das vantagens e desvantagens referentes às baterias de íon de Lítio.

Tabela 5. Vantagens e desvantagens das baterias de íon-lítio.

Fonte: Adaptado de [9].

Método de Carregamento das Baterias Li-íon

O processo de carga das baterias de íons de Lítio possui semelhanças com o das baterias de chumbo-ácido. A diferença está em uma tensão maior por célula, menor tolerância a sobretensões e ausência de carga de flutuação ou pulsante como estágio final. Tendo em vista que essas baterias não suportam sobretensões, a tensão de fim de carga deve ser cuidadosamente escolhida, ao contrário das baterias de chumbo-ácido que oferecem uma certa flexibilidade nessa escolha [10].

Segundo [11], o carregamento das baterias de Li-ion consiste em três estágios:

  1. Carga lenta: estágio de pré-carga usando uma corrente de 0,1C;
  2. Carga rápida: estágio de corrente constante usando uma corrente de 1C;
  3. Estágio de tensão constante.

A taxa de carga aconselhada é de 0,5 C a 1 C no estágio de corrente constante. Alguns fabricantes recomendam o uso de uma taxa de 0,8C ou menor para prolongar a vida útil da bateria, embora existem tipos de células que conseguem receber uma taxa de carga maior sem sofrer grandes estresses [10].

A Figura 3 ilustra o processo de carregamento de uma célula de íons de Lítio. O estágio de pré-carga só é utilizado quando a tensão da célula for inferior a 2,5 V. Caso seja necessário, a mudança do primeiro para o segundo estágio ocorre quando a tensão atinge o limite mínimo de aproximadamente 3 V. Então, o carregamento entra na etapa de corrente constante que termina quando a tensão da célula atinge um valor de 4,10 V a 4,20 V, com uma tolerância de ±50 mV. Na fase final, a tensão é mantida constante nesse valor até que a corrente caia abaixo de 3-5% da corrente nominal da célula. Se a taxa de carga usada for de 1 C, o processo completo durará cerca de 3h [10].

Figura 3. Curvas características do processo de carga de baterias Li-ion.

Ao contrário das baterias de chumbo-ácido, as de íons de lítio não necessitam ser totalmente carregadas. Na verdade, é até melhor não carrega-las por completo pois tensões mais elevadas acabam estressando a bateria. Assim, a escolha de um limite de tensão mais baixo, ou a eliminação do estágio de tensão constante, prolonga a vida útil do dispositivo, mas também reduz a sua autonomia. Normalmente, os carregadores de produtos eletrônicos portáteis buscam capacidade máxima e não dão grande importância para a vida útil prolongada. A Tabela 6 ilustra as capacidades estimadas para diferentes limites de tensão com e sem o estágio de tensão constante.

Tabela 6. Características de carga típicas das baterias Li-ion. Considerar a etapa de tensão constante aumenta em aproximadamente 10% a capacidade, mas adiciona estresses de tensão nas baterias.

Fonte: Adaptado de [10].

Efeito da Temperatura nas Baterias

A variação da temperatura causa efeitos nas reações químicas das baterias. Segundo a regra de van’t Hoff, um aumento de 10°C pode fazer com que a velocidade das reações dobre ou até triplique. Entretanto, não é apenas o aumento da temperatura que resulta em problemas de operação para os acumuladores. Conforme mencionado em [1], a redução da temperatura causa a redução da mobilidade dos portadores de carga no eletrólito, o que provoca um aumento na resistência interna e diminuição da capacidade da bateria. Especificamente, a capacidade reduz 1% para cada redução de 1°C na temperatura. Dependendo do local, pode ocorrer congelamento do eletrólito a temperaturas negativas, impossibilitando o uso das baterias e até danificando-as permanentemente. Por isso, baterias para locais frios possuem um eletrólito com uma concentração de ácido mais elevada, o que mantém ele líquido em baixas temperaturas.

Em contrapartida, o aumento da temperatura de operação gera um aumento da mobilidade dos portadores de carga no eletrólito, resultando numa redução da resistência e acréscimo da capacidade. A tensão se reduz cerca de -5mV/°C, o que pode ocasionar uma leitura incorreta do estado de carga. Evidentemente, a tensão de fim de carga também reduz e, por isso, o controlador deve compensá-la conforme a variação da temperatura, para não prejudicar a bateria [1]. A correção da tensão de uma célula devido à variação da temperatura pode ser feita com base na seguinte equação:

V(T) = V_{T_{REF}} + K\times \left(T - T_{REF}\right)

onde:

V(T) – é a tensão da célula na temperatura T;

V_{T_{REF}} – é a tensão da célula na temperatura de referência, de acordo com o fabricante;

K (V/°C) – coeficiente de temperatura da célula especificado pelo fabricando;

T (°C) – temperatura instantânea da célula;

T_{REF} (°C) – temperatura de referência obtida na documentação do fabricante.

Além dos inconvenientes citados acima, o aumento da velocidade das reações químicas também resulta em: aumento da taxa de autodescarga, corrosão das placas, redução da vida útil e sulfatação em baterias que não estão totalmente carregadas. Outro ponto importante é que as baterias de chumbo-ácido não devem ser operadas continuamente acima de 40°C. Alguns fabricantes aconselham um superdimensionamento do banco em 30% para temperaturas de operação abaixo de 15°C ou acima de 35°C. A Tabela 7 mostra a redução da vida útil devido ao efeito da temperatura para baterias de chumbo-ácido seladas (VRLA) com eletrólito absorvido (AGM). As bateiras seladas sofrem mais os efeitos da temperatura em comparação com as baterias abertas.

Tabela 7. Influência da temperatura na vida útil de baterias seladas de chumbo-ácido.

Fonte: Adaptado de [1].

No caso das baterias à base de Níquel, a faixa de temperatura para operação é tipicamente de -25°C a 45°C. O eletrólito congela abaixo do limite inferior, porém nenhum dano é causado. Assim como nas baterias de chumbo-ácido, estas também apresentam variações na tensão para temperaturas mais altas ou mais baixas, necessitando de um controlador capaz de compensar tal fator. Já com relação a sua capacidade, mudanças ocorrem apenas com temperaturas abaixo de -20°C, devido ao congelamento do eletrólito [1].

As baterias de íons de lítio apresentam uma boa performance no processo de carga em temperaturas elevadas, mas a exposição prolongada ao calor reduz a sua vida útil. Segundo [12], esse tipo de tecnologia permite cargas rápidas para temperaturas entre 5ºC e 45°C. Abaixo de 5°C a corrente de carga deve ser reduzia e o carregamento em temperaturas de congelamento não é permitido. A descarga, por outro lado, pode ser realizada até -40ºC, dependendo da tecnologia, mas somente para taxas de descargas reduzidas [13]. Nesse tipo de bateria a tensão também é afetada pela temperatura, logo uma estratégia de compensação deve ser adotada. Atualmente, métodos sofisticados para uma estimação precisa do estado de carga, independentemente das condições operacionais, podem ser encontrados na literatura [14].

De um modo geral, a Tabela 7 apresenta as faixas de temperaturas aproximadas para carga e descarga das baterias aqui citadas.

Tabela 8. Limites de temperatura permissíveis para diferentes tipos de baterias.

Fonte: Adaptado de [12].

Conclusão

Como foi visto, devido às particularidades das diferentes tecnologias, torna-se necessário adotar uma técnica de carga específica para cada uma delas. Embora todas apresentem o estágio de corrente constante no processo de carga, as técnicas se divergem quanto à detecção do término do carregamento. As baterias à base de níquel, por exemplo, são as que apresentam maior dificuldade para detecção do final do processo, sendo necessário a implementação de métodos mais sofisticados do que as demais. Uma possibilidade para identificar corretamente o fim do carregamento, independentemente das condições operacionais, é por meio de métodos que estimam precisamente o estado de carga (SoC). Estes, por sua vez, se baseiam no modelo elétrico da bateria, normalmente associado ao uso do filtro de Kalman, ou em técnicas de inteligência artificial. Devido à sua complexidade, esse assunto não será abordado nesse série de artigos. No próximo post irei apresentar alguns modelos elétricos para simulação de baterias no software PSIM, ou em qualquer outro equivalente.

Referências

[1] J. T. Pinho e M. A. Galdino. “Manual de Engenharia para Sistemas Fotovoltaicos”. Rio de Janeiro, 2014.

[2] A. G. dos Santos et al. “Influência da adição de Sn na resistência à corrosão e na capacidade de recarga da liga Pb-1,5%Sn para grade positiva de baterias chumbo-ácido.” Matéria (Rio de Janeiro) 24.1 (2019).

[3] Battery University. “BU-403: Charging Lead Acid”. Disponível em: <http://batteryuniversity.com/learn/article/charging_the_lead_acid_battery>. Acesso em: 13 abr. 2020.

[4] Battery University. “BU-202: New Lead Acid Systems”. Disponível em: <https://batteryuniversity.com/learn/article/new_lead_acid_systems>. Acesso em: 13 abr. 2020.

[5] M. Einhorn et al. “Comparison, selection, and parameterization of electrical battery models for automotive applications”, in IEEE TRANSACTIONS ON POWER ELECTRONICS, v. 28, n. 3, Mar. 2013.

[6] Battery University. “BU-203: Nickel-based Batteries”. Disponível em: <http://batteryuniversity.com/learn/article/nickel_based_batteries>. Acesso em: 13 abr. 2020.

[7] Battery University. “BU-407: Charging Nickel-Cadmium”. Disponível em:<http://batteryuniversity.com/learn/article/charging_nickel_based_batteries>. Acesso em: 13 abr. 2020.

[8] Battery University. “BU-408: Charging Nickel-metal-hydride”. Disponível em:<http://batteryuniversity.com/learn/article/charging_nickel_metal_hydride>. Acesso em: 13 abr. 2020.

[9] Battery University. “BU-204: How do Lithium Batteries Work?” Disponível em: <http://batteryuniversity.com/learn/article/lithium_based_batteries>. Acesso em: 13 abr. 2020.

[10] Battery University. “BU-409: Charging Lithium-ion”. Disponível em: <http://batteryuniversity.com/learn/article/charging_lithium_ion_batteries>. Acesso em: 13 abr. 2020.

[11] Texas Instruments. “LI-ION Battery Charger solution using the MSP430”. Application Report: SLAA287, Dezembro de 2005. Disponível em: <http://www.ti.com/lit/an/slaa287a/slaa287a.pdf>. Acesso em: 13 abr. 2020.

[12] Battery University. “BU-410: Charging at High and Low Temperatures”. Disponível em: <http://batteryuniversity.com/learn/article/charging_at_high_and_low_temperatures>. Acesso em: 13 de abr. 2020.

[13] Battery University. “BU-502: Discharging at High and Low Temperatures”. Disponível em: <http://batteryuniversity.com/learn/article/discharging_at_high_and_low_temperatures>. Acesso em: 13 de abr. 2020.

[14] Rivera-Barrera, J. Pablo, N. Muñoz-Galeano, and H. O. Sarmiento-Maldonado. “SoC estimation for lithium-ion batteries: Review and future challenges.” Electronics, v. 6, n. 4, p. 102, 2017.

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