Controlando a Tensão de Saída de um Conversor Buck
|E ai pessoal, como prometido no artigo anterior, irei apresentar um exemplo de projeto do sistema de controle aplicado ao conversor Buck. O objetivo aqui é utilizar as expressões obtidas anteriormente para determinar os parâmetros de um controlador PI, visando controlar a tensão de saída do conversor.
- Introdução
- Função de Transferência do Conversor
- Ganho do Modulador PWM
- Ganho do Sensor
- Projeto do Controlador PI
- Exemplo Numérico
- Resultados de Simulação
- Conclusão
- Apêndice
Introdução
A Figura 1 mostra um esquemático simplificado do conversor Buck, juntamente com a malha de controle da tensão de saída.
Alternativamente, podemos representar o sistema conforme o diagrama de blocos da Figura 2. Em se tratando de um conversor chaveado, torna-se necessário incluir o ganho equivalente do modulador PWM (do inglês Pulse Width Modulation), que está representado por KPWM na figura em questão. Além disso, na realimentação utilizaremos apenas o ganho do sensor (Kv), responsável por ajustar os níveis da tensão de saída aos níveis do circuito de controle (pode ser analógico ou digital).
Função de Transferência do Conversor
Como o objetivo é controlar a tensão de saída a partir da razão cíclica, devemos utilizar a função de transferência que relacione essas duas grandezas. Esta, por sua vez, já foi obtida no artigo sobre a modelagem dinâmica do conversor Buck, e é definida conforme (1).
Ganho do Modulador PWM
O modulador PWM tem a função de converter o sinal de controle, proveniente da saída do controlador, em pulsos de comando para o acionamento do interruptor. Para isso, é feita uma comparação entre dois sinais de tensão, um de baixa frequência (modulante) e o outro de alta frequência (portadora), resultando em um sinal com frequência fixa e largura de pulso variável.
A Figura 3(a) mostra de forma simplificada a estrutura de um modulador PWM. Nos conversores CC-CC, o sinal modulante é um sinal de tensão contínuo, pois o objetivo é obter uma tensão contínua na saída. Já nos conversores CC-CA o sinal modulante é senoidal, visto que se busca na saída uma tensão alternada. Adicionalmente, na maior parte dos casos, o sinal da portadora pode ser uma dente de serra ou uma triangular, sendo este que define a frequência dos pulsos.
A determinação do ganho do modulador se dá a partir da análise da Figura 3(b), que mostra as formas de onda envolvidas na comparação e o sinal resultante para um período de chavemanto (Ts). Nesse caso, estamos utilizando uma portadora triangular, cuja equação é dada por:
Sabendo que em a modulante e a portadora se igualam, tem-se:
onde d representa a razão cíclica, isto é, a fração do período em que o pulso permanece em nível alto.
Por fim, o ganho do modulador PWM é obtido a partir da relação , definida em (4).
Ganho do Sensor
Uma vez que o controlador é, normalmente, implementado por circuitos que operam com níveis de tensão inferiores aos do conversor, é necessário condicionar os sinais de realimentação. Por exemplo, supondo que a tensão a ser controlada é de 30 V e que o circuito de controle foi implementado com amplificadores operacionais, que funcionam de 0 V a 15 V, o ganho teórico do sensor deve ser de . No entanto, é interessante considerar uma folga de pelo menos 30% na tensão de saída, em virtude de eventuais transitórios. Nesse caso, o ganho seria de .
Por outro lado, quando implementamos a malha de controle de forma digital (através de microcontroladores ou DSP), podemos considerar o ganho da realimentação unitário. Isso porque, devido à versatilidade dos microcontroladores, é possível aplicar o ganho inverso do sensor (por meio do código), trabalhando assim com os valores reais de tensão.
Outra alternativa para os sistemas microcontrolados é trabalhar com valores por unidade (pu). Particularmente, essa é a que eu mais gosto pois permite utilizar a máxima resolução do microcontrolador. Para tanto, é necessário definir a tensão base do sistema (VB), que representa a máxima tensão lida pelo sensor. Nesse caso, o ganho da realimentação é dado por , o que significa que os sinais realimentados irão variar entre 0 e 1, caracterizando a operação em pu.
Para ficar mais claro, vamos a um exemplo. Se a máxima tensão permitida na entrada do conversor AD é de 3,3 V – valor equivalente a 1 pu dentro do microcontrolador – e a máxima tensão que eu quero ler é de , então a tensão base vale . Ou seja, eu preciso garantir que quando o meu sensor ler 39 V, eu terei 3,3 V na saída do circuito de condicionamento. Sendo assim, o ganho da realimentação é dado por .
Projeto do Controlador PI
Definidos todos os ganhos e funções de transferência do sistema, partimos para o projeto do controlador.
O primeiro passo é obter a Função de Transferência de Laço Aberto Não Compensada, FTLANC(s). Conforme a metodologia do artigo anterior, determina-se:
A função de transferência do controlador PI é definida segundo (6).
Com essas duas expressões, podemos determinar o ganho do controlador (Kc) e a frequência do zero inserido pelo mesmo no sistema [1]. Esses valores são obtidos por (7) e (8), respectivamente.
onde MF representa a margem de fase e representa a frequência de cruzamento desejadas para o sistema em malha fechada.
Exemplo Numérico
Para este exemplo, vamos considerar o conversor Buck dos artigos anteriores, cujos parâmetros estão dispostos na Tabela 1.
Tabela 1. Parâmetros do conversor Buck.
Visando trabalhar com valores em pu, irei considerar o ganho do modulador PWM unitário (i.e. ), de modo que a razão cíclica (saída do controlador) varie entre 0 e 1. Pelo mesmo motivo, o ganho da realimentação será definido como , considerando uma folga de 50% sobre a tensão de saída. Dessa forma, a função de transferência de laço aberto não compensada pode ser determinada pela equação (5), apresentada anteriormente.
A Figura 4 mostra o diagrama de Bode da FTLANC(s), que foi obtido por meio do software Mathcad. Outras opções de software para esse tipo de cálculo é o Matlab, Scilab ou Octave (sendo esses dois últimos gratuitos).
Observem que o sistema em malha aberta apresenta um comportamento estável, pois a margem de fase é positiva e a margem de ganho infinita, já que a fase não cruza -180°. No entanto, a frequência de cruzamento é de aproximadamente 845 Hz e a margem de fase está relativamente alta, caracterizando uma resposta mais lenta.
Visando uma resposta mais rápida, vou definir como parâmetros de projeto uma frequência de cruzamento de 2 kHz (uma década abaixo da frequência de chaveamento) e uma margem de fase de 60°. A Tabela 2 resume esses valores.
Tabela 2. Parâmetros de projeto do controlador.
Levando os valores da Tabela 2, juntamente com o módulo e a fase da , nas expressões (7) e (8), obtemos:
de modo que a função de transferência do controlador PI resulta em:
Vale ressaltar que o módulo e a fase de podem ser calculados manualmente ou por meio de um software (o que eu recomendo). No meu caso, utilizei o Mathcad e os comandos estão exibidos no final do artigo.
Com o controlador em mãos, podemos plotar a resposta em frequência da Função de Transferência de Laço Aberto Compensada, FTLAC(s), que resulta no diagrama de Bode da Figura 5. Uma vez que os resultados estão de acordo com os parâmetros de projeto, o próximo passo é confirmar o desempenho da malha de controle via simulação.
Resultados de Simulação
Para validar o controlador projetado utilizei o software de simulação PSIM. A Figura 6 mostra o modelo desenvolvido para tal fim.
Com relação aos resultados, a Figura 7(a) mostra o momento da partida do conversor, onde se pode observar que a tensão estabiliza na referência de 20 V em aproximadamente 6 ms, sem apresentar sobretensão. A Figura 7(b) representa a resposta do sistema diante de uma variação na referência de 20 V para 30 V. Já a Figura 7(c) demonstra a resposta dinâmica para uma variação na carga de 100% para 75% e vice-versa. Por fim, a Figura 7(d) apresenta o comportamento da tensão de saída frente a uma variação de 50 V para 60 V na tensão de entrada.
Conclusão
Nesse artigo ensinei como aplicar os conceitos aprendidos no post anterior, com o objetivo de projetar um controlador PI para regular a tensão de saída de um conversor Buck. A fim de validar o controlador, apliquei diferentes distúrbios no sistema via simulação, e os resultados obtidos se mostraram muito satisfatórios, apresentando uma resposta rápida e sobretensões aceitáveis. O interessante é que esses mesmos conceitos podem ser aplicados para o controle de corrente, ou para outros tipos de conversores e aplicações, como é o caso dos inversores conectados à rede elétrica.
Apêndice
Comandos utilizados no Mathcad.
NOBRE AMIGO,
EU VENHO POR MEIO DESTE , PEDIR-TE UMA PEQUENA AJUDA … QUE NADA MAIS SERIA DO QUE O SEGUINTE :
– COMO POSSO FAZER COM QUE ESTES SEUS INVERSORES FIQUEM ENTREGANDO UMA “ONDA SENOIDE PURA NA SAÍDA” , EU PODERIA TÁ USANDO UM FILTRO “ATIVO OU PASSIVO” ENTRE O TL494 E OS GATES DOS MOSFET´S ? SE SIM , ISSO NÃO ABAIXARIA A TENSÃO E A CORRENTO QUE SERIA ENTREGUE AOS “GATES” FAZENDO ASSIM , COM QUE ISSO DEBILITASSE A TENSÃO OU A FORMA DA ONDA NA SAÍDA DO INVERSOR ?
Um inversor é basicamente um buck bi-direcional. A modelagem é feita de forma semelhante a apresentada pelo colega neste exemplo, entretanto, para conseguir um formato de onda senoidal na saída você deve usar como referência de onda moduladora um sinal senoidal de frequência escolhida. O seu filtro de saída do conversor pode ser um filtro passivo LC, semelhante ao da estrutura, uma frequência de corte de alguns kHz deve ser suficiente
Entendo , porem não estou conseguindo gerar uma ONDA SENOIDAL DE 60HZ ( frequencia escolhida para a rede de saída do inversor ) estou usando o SG3525 , você sugeriria algum outro circuito ideal para gerar este sinal senoidal com 60hz ?
Como o amigo Cassiano Mattos mencionou, para se obter uma tensão senoidal na saída é necessário utilizar um sinal modulante também senoidal. Ou seja, em vez da razão cíclica ser constante, ela irá variar de forma senoidal com a frequência que você deseja para a sua tensão de saída (60 Hz, por exemplo). Uma alternativa mais simples é gerar uma onda quadrada e depois filtrá-la, mas isso acaba exigindo um filtro mais volumoso e caro na saída.
Sendo assim, acredito que para gerar uma tensão ‘puramente’ senoidal usando o TL494, você precisaria gerar um sinal senoidal a partir de um outro circuito e aplicá-lo no pino feedback (caso queira testar em malha aberta) ou usá-lo como referência em algum dos amplificadores de erro (caso queira testar em malha fechada). Mas confesso que nunca usei esse CI, teria que ler certinho o datasheet.
Talvez esses materiais possam te ajudar:
https://www.researchgate.net/publication/327931598_Design_and_Analysis_of_Modified_Sine_Wave_Inverter
https://www.onsemi.com/pub/Collateral/TL494-D.PDF
http://www.ti.com/lit/ds/symlink/tl494.pdf
É importante mencionar que existem basicamente três opções para o inversor monofáscio: (i) push-pull, (ii) meia ponte e (iii) ponte completa. A forma como você vai acionar os MOSFETs depende da topologia escolhida.
Teria como disponibilizar o arquivo do PSIM?
Caio, boa noite.
Você poderia disponibilizar o arquivo do PSIM?