Conversor Boost Passo a Passo
|No artigo de hoje você vai entender como funciona e como projetar um conversor Boost operando no modo de condução contínua. Bora lá!
Princípio de Funcionamento do Conversor Boost
A estrutura típica do conversor Boost está representada na Figura 1. Assim como o conversor Buck, este possui quatro elementos principais: um interruptor de potência ativo (S1), um diodo de potência (D1), um indutor (Lb) e um capacitor (Co).
Sabendo que o interruptor S1 possui dois estados de funcionamento, ou está em condução ou está em bloqueio, precisamos analisar apenas duas etapas de operação. Seja a razão cíclica e o período de chaveamento, a primeira etapa tem duração de e a segunda de .
1ª Etapa de operação [0, D⋅Ts ]
A primeira etapa se inicia quando o sinal PWM vai para nível alto, colocando o interruptor em condução (ver Figura 2). Nessas condições, o diodo fica reversamente polarizado, e a fonte passa a transferir energia para o indutor (iL cresce). No estágio de saída, o capacitor fornece energia para carga e, consequentemente, a sua tensão diminui.
Matematicamente, a tensão no indutor e a corrente no capacitor valem:
2ª Etapa de operação [ D⋅Ts , D⋅Ts ]
Quando o sinal PWM vai para nível baixo, o interruptor S1 é bloqueado, e o diodo D1 entra naturalmente em condução para fornecer um caminho para a corrente do indutor (ver Figura 3). Durante essa etapa, o indutor devolve a energia armazenada na etapa anterior (iL diminui), carregando assim o capacitor e alimentando a carga.
As equações que definem a tensão no indutor e a corrente no capacitor nesta etapa são:
Formas de Onda do Conversor Boost em Condução Contínua
A Figura 4 mostra as principais formas de onda do conversor Boost. Como se pode ver, o interruptor conduz a corrente do indutor durante a primeira etapa ( ), enquanto o diodo permanece bloqueado (). Na segunda etapa acontece o contrário: o diodo conduz a corrente do indutor, enquanto o interruptor fica bloqueado. Ambos os semicondutores devem suportar a tensão de saída durante a etapa de bloqueio, conforme ilustrado na forma de onda da tensão sobre o diodo na referida figura.
Importante Se o interruptor ficar o tempo todo bloqueado, a tensão na saída será igual à tensão de entrada, uma vez que o indutor se comporta como um curto-circuito em regime permanente. Mas à medida que o interruptor é comutado, o indutor entra em um processo de armazenar energia em seu campo magnético e depois transferir para o capacitor de saída. Como consequência, a tensão no capacitor aumenta para além da tensão de entrada até atingir o regime permanente. Por esse motivo, esse conversor é denominado como elevador de tensão, visto que a tensão de saída é sempre maior que a de entrada. Ademais, é importante manter sempre uma carga na saída do conversor Boost para evitar que a tensão aumente demasiadamente até danificar os componentes. |
Ganho Estático do Conversor Boost
Pelo princípio da conservação de energia, sabe-se que a tensão média sobre o indutor em regime permanente é nula. Como essa tensão vale na primeira etapa e na segunda etapa, podemos escrever:
Assim,
A expressão (7) representa o ganho estático do conversor Boost, assim como apresentado no artigo introdutório aos conversores CC-CC. Para
fins de comparação, a Figura 5 mostra o ganho estático do
conversor Buck e do conversor Boost em função da razão cíclica. Aqui
fica claro que a tensão de saída no conversor Boost é sempre maior ou
igual à tensão de entrada. Teoricamente, seria possível gerar uma tensão
infinita na saída para , mas devido às perdas no circuito o
ganho máximo é limitado na prática [1]. Além disso, observa-se que o
conversor Boost apresenta um ganho estático não linear, ao contrário do
conversor Buck.
Para chegarmos na relação das correntes, podemos considerar a potência de entrada igual a de saída [2]. Isto é,
Logo,
Desse modo, conclui-se que a relação entre a corrente de saída e a corrente de entrada é inversa à relação das tensões (ganho estático). Isso se justifica pelo princípio da conservação de energia no sistema. Se a tensão é maior na saída, a corrente deverá ser menor para manter a potência constante.
Dimensionamento dos Componentes Passivos
O próximo passo é obter as expressões para o dimensionamento dos componentes do circuito. Vamos iniciar pelo indutor, aproveitando a sua forma de onda de corrente ilustrada na Figura 6.
Projeto do Indutor
O valor da indutância é calculado com base em (10), para determinada ondulação de corrente () e frequência de chaveamento (). A ondulação nada mais é do que o ripple em alta frequência presente na corrente. Normalmente, definimos esse parâmetro entre 20% e 40% do valor médio da corrente do indutor que, no caso do conversor Boost, é igual à corrente de entrada. Detalhes de como chegar nessa equação podem ser vistos no vídeo acima.
Além do valor da indutância, precisamos definir a corrente máxima que o indutor deve suportar. Conforme ilustrado na Figura 6, a ondulação de corrente sempre varia em torno do valor médio. Dessa forma, é válido escrever que:
Importante Para evitar a saturação do núcleo, devemos escolher um indutor com uma corrente de saturação maior do que o valor calculado em (11). |
Projeto do Capacitor de Saída
Para a escolha do capacitor, podemos considerar a seguinte equação:
em que representa a ondulação de tensão desejada na
saída do conversor (tipicamente entre 1% e 5% do valor médio da tensão
).
No conversor Boost, o capacitor é submetido a um estresse maior já que a corrente de saída é descontínua, como mostra a Figura 7. Dessa forma, é importante calcular a corrente eficaz que circula pelo capacitor, segundo:
Essa corrente gera perdas na resistência série equivalente (ESR) do capacitor e provoca uma queda de tensão que contribui para o aumento do ripple. Por isso, além de ter que suportar a corrente calculada em (13), o capacitor também deve apresentar uma ESR máxima calculada de acordo com [3]:
Dimensionamento dos Semicondutores de Potência
O projeto dos semicondutores de potência é outro passo importante para garantir um bom funcionamento do conversor. Como vimos em artigos anteriores, os parâmetros mais importantes a serem obtidos são: a máxima tensão e a máxima corrente que eles devem suportar, a corrente média e a corrente eficaz.
Tensão Máxima sobre o Interruptor e o Diodo
A tensão máxima sobre o interruptor é determinada quando este se encontra em bloqueio durante a segunda etapa. Como se pode verificar pelo circuito equivalente da Figura 2, esse parâmetro equivale à própria tensão de saída. A análise para o diodo resulta no mesmo valor (ver Figura 3). Então, pode-se escrever a seguinte relação.
Corrente Média e Eficaz no Interruptor
Para o cálculo dos valores médio e eficaz da corrente no interruptor, vamos considerar a aproximação por baixa ondulação, conforme ilustrado na Figura 8.
Sendo assim, o valor médio da corrente vale:
E o valor eficaz:
Corrente Média e Eficaz no Diodo
Da mesma forma, a corrente no diodo pode ser aproximada segundo a Figura 9. O seu valor médio é dado por:
E o valor eficaz:
Corrente Máxima no Interruptor e no Diodo
A consideração feita para o cálculo dos valores médio e eficaz das correntes nos semicondutores mantém uma boa aproximação com o valor real. No entanto, para calcular o valor máximo das correntes, precisamos considerar a ondulação da corrente no indutor. Como a corrente que circula pelos semicondutores é a mesma do indutor, tem-se:
Resumão
Este artigo apresentou o princípio de funcionamento do conversor Boost e o equacionamento necessário para dimensionar seus componentes. De forma resumida, podemos dividir o projeto desse conversor em 5 etapas principais, segundo o fluxograma da Figura 10:
- Definir os parâmetros de projeto, como tensão de entrada, tensão de saída, potência nominal, frequência de chaveamento, ondulação de corrente no indutor e ondulação de tensão no capacitor;
- Calcular a razão cíclica necessária para atingir o ganho estático desejado;
- Definir o valor mínimo do indutor;
- Definir o valor mínimo do capacitor de saída;
- Calcular os esforços de corrente e tensão nos semicondutores de potência.
Se quiser entender melhor a análise matemática e como aplicar as equações, recomendo assistir ao vídeo onde apresento o equacionamento completo e um exemplo de projeto com simulação no LTspice®. Aguardo você no próximo artigo. Até mais!
Referências
[1] F. Stasi. “Working with Boost Converters”. Application Report SNVA731, Texas Instruments, junho de 2015.
[2] D. C. Martins e I. Barbi. “Conversores CC-CC Básicos Não Isolados”. 4ª Edição do Autor, Florianópolis, 2011.
[3] B. Hauke. “Basic Calculation of a Boost Converter’s Power Stage”. Application Note SLVA372D, Texas Instruments, 2009.
Boa tarde, estava lendo o seu texto e percebi um possivel erro, na equação 5 não seria Vin*D + (Vin-Vout)(1-D) ao invéz de Vin*D – (Vin-Vout)(1-D) ?